Neste domingo teremos o grande clássico do futebol uruguayo, sem duvida o maior da América. Nacional x Peñarol além de unir histórias fantásticas, um extenso numero de títulos e ídolos históricos, alia a rivalidade ligada ao espírito charrúa, guerreiro e peleador. Como domingo será o dia que Montevideo e a República Oriental Del Uruguay pararão para assistir o confronto entre carboneros e bolsilludos no estádio Centenario, hoje o Futebol de Uruguay cede espaço à um de seus leitores mais fiéis para contar um pouco da história deste grande clássico.
Douglas Muniz da Silva tem 22 anos, é de São Paulo e desde a Copa América de 1995 é encantado pelo futebol uruguayo. Quando Douglas conheceu a força e a mítica da Celeste naquela final contra o Brasil, um capitão charrua, camisa 10 às costas, chamado Enzo Francescoli, desconhecido para uma criança de 6 anos que sabia o básico do esporte bretão, destruiu a ambição canarinho e se tornou assim o grande ídolo da infância de Douglas. “Um verdadeiro gênio! Adoraria que o meu time, com a dinheirama que tinha à época, contratasse ele” lembra.
Hoje, mesmo após 16 anos, Douglas não esqueceu Francescoli, muito menos o futebol uruguayo, que lhe admira com as suas belíssimas histórias, suas lendas em campo e conquistas diversas. A paixão e admiração são tantas que, assim como muitos dos brasileiros apaixonados pelo futebol charrua, Douglas deseja viajar até o Uruguay, conhecer à fundo a sua cultura e a sua gente e “respirar o futebol que acontece de forma mais intensa na época do Clássico”, sonhando também em assistir um dia à um Nacional x Peñarol junto à torcida no Centenario.
Enfim, deixemos que o amor e conhecimento de Douglas sejam transmitidos pelas linhas abaixo.
Muitos craques de outros países fizeram parte da história desses clubes e também do clássico, desde os primórdios do futebol uruguayo, passando pelo começo do profissionalismo e da era platina do futebol sulamericano sobre o europeu, até chegarmos aos dias atuais. A presença dos brasileiros no derby de Montevideo foi muito importante em toda a história desse clássico, e por isso veremos alguns desses nomes históricos que atuaram pelos dois clubes:
Corria o ano de 1931 e o amadorismo marrom começava a dar os seus últimos suspiros no futebol brasileiro, os principais craques do futebol verde e amarelo começavam a dar o salto para uma vida de riqueza e status que eles acreditavam que o profissionalismo garantiria. O futebol dos vizinhos Uruguay e Argentina já adotava o regime profissional, Domingos da Guia era titular da seleção brasileira e já despontava como um gênio na posição. Os uruguayos se recordavam perfeitamente de uma partida pela Copa Rio Branco onde Domingos desfilou a sua enorme categoria e o Brasil ganhou do então campeão do mundo. Melhor resume o não menos genial escritor Mário Filho sobre a sua atuação nessa partida tão decisiva em sua carreira:
‘... É como vejo Domingos: dando o drible em Dorado. Bastava que Dorado pegasse uma bola para a multidão ficar de coração batendo. E Dorado pega a bola e fecha sobre o arco brasileiro, Domingos correndo ao lado dele. Eram duas pernas na frente, duas pernas atrás. Pareciam, Domingos e Dorado, um corpo só. De repente, Domingos gira o corpo, dá as costas para o gol, pára. E lá vai Dorado para dentro do gol. E dentro do gol eram pontapés nas redes, eram socos no ar, eram gritos, eram abraços, eram beijos. Em volta do estádio, petrificado, imóvel, emudecido. E Domingos um pouco além da área, olhando espantado para tudo aquilo, enquanto pisava a bola, como uma estátua... ’
Após a trabalhosa contratação de Domingos pelo Nacional, os Bolsos formaram a maior defesa do mundo: Domingos da Guia e José Nasazzi, lendária na história do clube. Virou o “Divino Mestre”, decisivo em um clássico quando parou o também brasileiro Feitiço na primeira fase do Campeonato Uruguayo, mas não participou da final contra o próprio Peñarol. Mesmo assim ficou a grande lembrança de um jogador monumental para a hinchada bolsilluda.
Outro nome histórico do clássico foi Leônidas da Silva, descoberto também em uma partida entre as duas seleções onde fora o destaque da vitória brasileira numa Copa Rio Branco com dois gols e uma atuação de gala. Jogando no pequeno Bonsucesso e com o profissionalismo instaurado no Uruguay, Leônidas rumou ao Peñarol. Mesmo sem vencer um titulo sobre o rival, Leônidas deixou a marca do seu futebol malabarista e virtuoso pelo clube, tratado como gênio mesmo ficando por pouquíssimo tempo.
Luis Matoso, o Feitiço, foi um grande nome do futebol brasileiro atuando pelo carbonero, fazendo partidas excepcionais e ajudando a levar o titulo uruguayo de 1935. Nomes brasileiros históricos no Peñarol, sem esquecer de citar Luiz Luz, bandeira histórica do Grêmio, era uma tentativa de resposta a José Nasazzi, garantindo dois títulos uruguaios e escrevendo o seu nome no histórico de ídolos brasileiros no Manya.
Outros nomes brasileiros que marcaram o clássico naqueles anos, e também a história dos dois clubes, foram Patesko e Benevuto pelo Nacional, Bahia e Coelho para o Peñarol. Anos mais tarde veríamos novos nomes figurar no clássico.
Após o rompimento com o Botafogo sob acusações de suborno no ano de 1969, Manga acabou negociado ao Nacional, fazendo parte da base tetra campeã uruguaya, campeã da Libertadores e Mundial pelo clube, num período fantástico da história do clube, com oito jogadores em campo na semi-final da Copa de 1970. O time campeão da América em 1971 era: Manga; Ubiñas, Ancheta, Masnik e Blanco; Montero Castillo e Espárrago; Maneiro (Mujica), Luis Cubilla, Artime e Morales (Mamelli), que bateu o Peñarol por 2 a 0 eliminando o rival com uma grande atuação de Manga. Seguiram-se outras atuações destacadas e histórias folclóricas também, pois foi o primeiro goleiro da história do clube a fazer um gol, contra o Racing de Montevideo. Dizem que o seu gosto pelo cassino que quase o deixou na miséria foi adquirido quando atuava pelos bolsilludos.
Vindo do sul, Jair era tido como “o príncipe”, abaixo apenas do “Rei Dadá” e de outros ídolos no Internacional na conquista do Brasileiro de 1975, 1976 e 1979. Foi negociado com o Peñarol como contrapeso do craque Rubén Paz. Grande negócio para ambas as partes. Com atuações destacadas no ano de 1982, quando conquistou o Campeonato Uruguayo, a Libertadores e o Mundial, tido como parceiro ideal de Fernando Morena, o time base era: Fernández; Diogo, Gutiérrez, Olivera e Morales; Bóssio e Saralegui; Vargas, Jair, Fernando Morena e Ramos. Envergando a camisa 10 e sendo decisivo em todos as conquistas, inclusive no Clássico dos Clássicos na vitória por 1 a 0.
Os técnicos brasileiros também tiveram importante participação nessa grande história. Osvaldo Brandão, treinador de sucesso no futebol paulista foi o responsável por um processo de transição de saída de grandes nomes multicampeões pelo clube. Saíram Spencer, Pedro Rocha, Forlán e Figueroa com o intuito de montar um grupo novo, deu o azar de o rival viver um período excelente á época. Dino Sani também teve a oportunidade de comandar o Decanato, foi bi-campeão uruguayo, aproveitando-se do grande goleador Morena e de um ascendente Rubén Paz.
Com a abertura de mercado na Europa e a sanha por dinheiro dos nossos jogadores, não tivemos mais nomes históricos integrantes no Clássico. Jogadores inexpressivos passaram sem nenhuma boa lembrança para os torcedores carboneros e bolsos, hoje João Pedro tem uma grande responsabilidade sobre os ombros, além de envergar a camisa carbonera, manter o histórico marcante de jogadores brasileiros pelos dois clubes e principalmente, no Clássico dos Clássicos.
Para finalizar, o Futebol de Uruguay lembra: o maior clássico das Américas acontece amanhã, às 17h, e é quase obrigação de todo amante do futebol uruguayo acompanhar este jogaço. Infelizmente as emissoras brasileiras não irão transmitir, mas a partida pode ser acompanhada por rádio via internet ou pelos sites de futebol uruguayo.